Julho das Pretas: Do interior do nosso interior, nosso ouro de casa Dra Karine Alves
Karine Alves Rodrigues é uma mulher negra, advogada e mãe de uma menina negra de 5 anos. Nascida em 1987, no recôncavo da Bahia na Cidade de Santo Amaro, ela relembra a importância dos pais quando se trata do acesso à educação, cujo qual os mesmos não tiveram as mesmas oportunidades. Para ela, a base para seu crescimento profissional sempre foi a grande influência dos estudos por parte da família.
No 2º ano do ensino médio a advogada veio estudar na capital e ao concluir o terceiro ano do ensino médio, prestou vestibular para direito e história na UFBA, mas a aprovação em direito (que era o que realmente desejava) a fez ingressar na faculdade UNIME após conseguir bolsa no FIES pela boa pontuação no ENEM. A partir desse momento, Karine ingressa em uma faculdade majoritariamente branca e se depara com um olhar elitista e racista no âmbito acadêmico. Contudo, independente das dificuldades, a advogada ingressou aos 18 anos e em entrevista, diz que logo na primeira semana de aula se identificou com a área jurídica.
Em 2008, após diversas e diversas entrevistas em escritórios de advocacia para tentar estágios sem sucesso, acreditando ter sido devido a dificuldade de se contratar uma mulher negra, Karine foi aprovada em uma seleção do TJ-BA para estagiar em uma das Varas dos Juizados Especiais até o ano de 2011, quando concluiu o curso. De estagiária do balcão de atendimento, ela passou para o interno da Vara, e após desenvolver bem o trabalho foi transferida para o gabinete da Juíza, trabalhando diretamente com decisões, sentenças, despachos e audiências. Seu desempenho foi essencial para que a advogada pudesse enaltecer, inclusive, sua individualidade e sua carreira profissional, pois, mesmo sendo humilhada por alguns advogados no atendimento e não acreditando nas informações passadas por ela, Karine olhava para si e reconhecia o bom trabalho que realizava e a sua importância dentro daquele espaço.
Em 2012 seu estágio se encerrou e neste mesmo período, a juíza a qual eu era vinculada foi promovida a Desembargadora e Karina passou a desempenhar o cargo de Assessora no TJ-BA, o que exerce com muito trabalho, dedicação e profissionalismo, elaborando acórdãos, votos e decisões das mais variadas matérias. Nesse mesmo ano ocorreu também sua aprovação na OAB.
Após toda essa experiência na área pública, em 2013 Karine entrou para a advocacia corporativa, onde foi advogada em escritórios, inicialmente como advogada júnior e ao longo do tempo em seu trabalho, suas funções foram se expandindo em conjunto com seus cargos.
Tendo feito pós-graduação em Direito Processual Civil e direito do Consumidor, Karine passa de advogada empregada para advogada empreendedora, quando em 2017/2018, após incentivo de uma grande amiga, ela se torna torna sócia do escritório Ramos e Rodrigues, que hoje atua na área consumidor, família, cível, empresarial, além de ser Assessora Jurídica na Área Pública na Câmara de Vereadores e Pós-Graduanda MBA em Gestão Pública com ênfase em Administração de Cidades Inteligentes.
Ela afirma que uma das maiores experiências dentro da advocacia foi a oportunidade de ingressar na Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB, para ela, ser membro desta entidade é um ato de resistência, resiliência muito grande e motivo de muito orgulho. Sua trajetória como mulher negra nesta sociedade machista e racista a fez enxergar, cobrar e falar para todos ouvirem sobre seus direitos, e não mais abaixar a cabeça para qualquer tipo de conduta ofensiva.
Após, portanto, esse amadurecimento profissional juntamente com o instinto maternal de lutar para que sua filha não passe por situações passadas por ela,a OAB, através da Comissão, motivou Karine a se tornar palestrante e orientadora de jovens negros. Karine é grata pelo seu desenvolvimento dentro da Comissão e afirma que tais iniciativas tomadas por ela a fez participar de uma forma mais ativa e política na vida escolar da sua filha, cobrando a inserção da cultura afrodescendente em sua escola
Por fim, o que a conforta é que, aos poucos, mulheres negras têm desbravado os espaços jurídicos para que outras possam vir a ter voz. Nas palavras da advogada, “a luta diária que travamos hoje é pelos que lutaram no passado por nós, e agora devemos manter a luta pelos que vêm no futuro. Não podemos retroceder!”
A Comissão agradece e homenageia Karine Alves Rodrigues pela mulher negra, mãe e advogada que se tornou e pela oportunidade de influenciar outras mulheres.
Dandara Amazzi Lucas Pinho
Advogada criminalista, presidenta da Comissão de Promoção da Igualdade Racial
Rafaela Tavares Von Czekus
Bacharela em humanidades/UFBa, membra da Comissão de Promoção da Igualdade Racial