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Amorim: Sanções ao Irã não são bem vistas por membros não-permanentes do Conselho de Segurança da ONU

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Diversos membros não permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) têm demonstrado apoio nos últimos dias ao acordo feito com o Irã para troca de material nuclear, afirmou nesta terça-feira (1º) o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Durante depoimento à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), ele reiterou que o acordo - promovido com o apoio do Brasil e da Turquia - deve ser compreendido como uma iniciativa capaz de gerar "mais confiança" junto à comunidade internacional.

- Conversei com representantes de membros não permanentes do Conselho de Segurança. Todos manifestaram quase um desconforto com a idéia de caminhar para sanções, depois do acordo. Recebi mais de 15 chanceleres durante encontro da Aliança das Civilizações, e todos disseram que preferem uma solução pacífica. Alguns chegaram a agradecer a nossa ação - relatou Amorim aos senadores.

Ao comentar a repercussão internacional da Declaração de Teerã, firmada em 17 de maio, o ministro admitiu a existência de críticas, destinadas principalmente, a seu ver, a desqualificar o acordo firmado por Irã, Brasil e Turquia, no momento em que as principais potências ocidentais passaram a defender com maior intensidade a adoção de sanções contra o Irã. Mas ressaltou repercussões positivas como a do jornal parisiense Le Monde, segundo o qual os futuros livros de história terão de registrar a data de 17 de maio de 2010.

- Por que o Irã aceitou um acordo com a Turquia e o Brasil e não com as potencias nucleares? Justamente por esses países não falarem do alto de sua arrogância, mas sim em pé de igualdade - interpretou Amorim, lembrando que as cinco potências nucleares que integram de forma permanente o Conselho de Segurança "negociam entre si" as principais decisões internacionais.

O ministro recordou que partiu do próprio presidente norte-americano Barack Obama a iniciativa de negociar um acordo com o Irã, ainda em 2009. Desde aquele momento, informou, a proposta envolvia a troca de urânio levemente enriquecido (a 3,5%) por urânio enriquecido a 20%, fornecido por potências ocidentais, para os reatores de Teerã. O Ocidente, ressaltou, teria as garantias de retirar urânio levemente enriquecido do Irã, ao mesmo tempo em que se certificaria que o urânio enriquecido entregue ao país não poderia ser usado para fins militares.

O acordo não saiu, segundo a avaliação do ministro, porque não se teria chegado a um acordo com o Irã a respeito de três preocupações ocidentais: a definição da quantidade de urânio envolvida e as exigências do Irã de que a troca deveria ser simultânea e ser realizada em território iraniano. Com o impasse, observou, os Estados Unidos passaram a liderar, no Conselho de Segurança, uma campanha pela aprovação de sanções contra o Irã.

A atuação de Brasil e Turquia a favor de um entendimento não pode ser entendida, na opinião do ministro, como uma "atitude de confrontação de dois países com militância terceiro-mundista", uma vez que os dois países têm "excelentes relações" com as potências ocidentais e a Turquia é, inclusive, integrante da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

Segundo Amorim, o acordo obtido com a ajuda de Brasil e Turquia atende às principais preocupações manifestadas por Barack Obama em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 20 de abril. Para ele, o acordo destina-se, na verdade, a "criar confiança". A partir disso, outros "temas difíceis" do programa nuclear iraniano poderiam ser tratados.

- Algumas pessoas disseram que o acordo é insuficiente. Nós concordamos, nunca achamos que resolveria todos os problemas - afirmou.