Nota de Pesar pela morte do pastor Djalma Rosa Torres
A Ordem dos Advogados do Brasil-Seção Bahia vem a público manifestar o seu mais sincero pesar pelo falecimento do pastor Djalma Rosa Torres, ocorrido ontem, dia 23 de maio.
Natural da cidade de Itagi, no sudoeste da Bahia, Djalma Torres graduou-se em Teologia e em Ciências Sociais, possuía especialização em História e Cultura da África e Afrodescendência e era Mestre em Teologia. Pastoreou as Igrejas Batista da Graça (1970 a 1975) em Recife e Batista de Nazareth (1973 a 2007), em Salvador, onde serviu a igreja e a comunidade por 30 anos como ministro e por muito mais tempo como benemérito. Foi Presidente do Centro de Pesquisa, Estudos e Serviço Cristão (CEPESC), do Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC), da Igreja Evangélica Antioquia e da Fraternidade de Igrejas Evangélicas do Brasil. Membro do Koinonia - Presença Ecumênica e Serviço, do Rio de Janeiro, desenvolveu trabalhos na região de Canudos, como membro fundador e diretor do Instituto Popular Memorial de Canudos (IPMC).
Em 2011 publicou o livro “Caminhos de Pedra”, narrando a sua trajetória de vida e seu engajamento no movimento ecumênico, atuação que o aproximou do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) e do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI). No ano seguinte recebeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos concedido pela Presidência da República na categoria Diversidade Religiosa pelas atividades realizadas em favor do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.
Sob a sua liderança, a Igreja Batista Nazareth, em plena ditadura militar, lutou contra o regime de exceção, acolhendo pessoas e movimentos de resistência. Ainda nos anos 70, aceitou o batismo de outras igrejas, estabeleceu a ceia ultra livre, defendeu o divórcio antes da aprovação pelo Congresso Nacional e liderou a organização da Semana de oração pela unidade dos cristãos na Bahia. Foi na época uma instituição pioneira no despertar da articulação para a unidade das igrejas no estado.
Guiado pela premissa de que “o que importa são as pessoas”, pastor Djalma Torres sofreu ameaças de expulsão do ministério eclesiástico desde o Seminário, perseguições políticas e retaliações institucionais. Seu trabalho em prol da igualdade de direitos para todas as pessoas e entre todas as religiões encontrou obstáculos, mas nenhum capaz de demovê-lo do seu propósito.
Tornou-se um apóstolo do ecumenismo, caminhando por todo o Brasil e mesmo no exterior em defesa da liberdade religiosa. Fez pregações na Argentina, na Nicarágua e em Cuba e participou de diversos eventos reunindo líderes e igrejas ecumênicas da América Latina e do Caribe, dos Estados Unidos e da Europa.
Com a notícia do seu falecimento, em toda a Bahia, pastores protestantes, padres e abades católicos, babalorixás, rabinos, médiuns kardecistas, lideranças muçulmanas, da umbanda, do budismo e de incontáveis outras denominações religiosas lamentam a partida do pastor Djalma. Homem simples e muito determinado que durante cinco décadas promoveu o diálogo entre as diferentes religiões e lideranças espirituais para cooperar em prol do pluralismo religioso e de um mundo inclusivo, com respeito à diversidade e aos direitos humanos.
A OAB-BA manifesta o seu reconhecimento pela sua relevante trajetória em defesa do ecumenismo e da liberdade religiosa e se solidariza com sua família neste momento de luto, em especial com seu irmão Paulo Torres, advogado e professor de Direito Agrário e seu filho, o advogado tributarista Mauricio Torres.
Fabrício de Castro Oliveira
Presidente da OAB-BA
Maira Santana Vida
Presidente da comissão de combate à intolerância religiosa da OAB-BA
Jerônimo Luiz Plácido de Mesquita
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-BA