Cosme de Farias é homenageado em entrega de carteiras da OAB-BA
Solenidade contou com a presença da neta do advogado dos excluídos
A OAB da Bahia realizou nesta quarta-feira (16) uma cerimônia de entrega de carteiras a 40 advogados e advogadas onde homenageou o advogado dos excluídos Cosme de Farias. A homenagem foi uma iniciativa da Comissão de Direitos Humanos da Seccional e contou com a presença de Creuza Maria Carqueja, neta de Cosme, que recebeu a carteira simbólica do avô concedida pela OAB-BA.
Presidida por Daniela Borges, presidenta da Seccional, a solenidade contou com as presenças da secretária-geral da OAB-BA, Esmeralda Oliveira, do presidente da Comissão de Direitos Humanos, Eduardo Rodrigues, da jornalista e representante da ABI Mônica Celestino, de Maristela Santos, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, da diretora da ESA, Cínzia Barreto, da vice-presidenta da CAAB, Cléia Costa, e dos conselheiros seccionais Marcos Melo, Marcus Rodrigues e Luís Vinícius de Aragão Costa, autor do voto que, na gestão passada, conferiu a Cosme de Farias o título de advogado, até então tratado como rábula.
Emocionada com a solenidade, a neta de Cosme de Farias destacou que essa é a primeira vez que as autoridades baianas reconhecem seu avô como o homem que ele foi. "Honrem essa carteira e tentem fazer na vida de vocês um pouco do que Cosme de Farias fez na dele. Sejam honestos com vocês mesmos, com a Justiça e seus clientes, porque eles dependem de vocês", aconselhou Creuza Maria Carqueja aos jovens advogados e advogadas.
Daniela Borges classificou como memorável a solenidade desta quarta-feira. Ela lembrou que ninguém constrói um futuro sólido sem honrar a própria história. "Resgatar a história de Cosme de Farias é resgatar a história da Bahia, de homens e mulheres que há tantos anos vêm construindo caminhos que nos trouxeram até aqui. É também uma forma de honrar a história da advocacia, essa profissão que nasce do instinto humano de defesa e é uma honra para a OAB da Bahia ter Cosme de Farias nos quadros da nossa instituição", destacou Daniela.
A jornalista Mônica Celestino fez uma apresentação da trajetória de Cosme na defesa da população baiana que não dispunha de condições de pagar um advogado. Segundo ela, ao todo, Cosme trabalhou em mais de 30 mil ações penais e cíveis e deixou um legado não apenas no mundo jurídico, mas também na educação e na imprensa do nosso estado.
"Essa é uma oportunidade de reconhecer o trabalho de Cosme de Farias e eu desejo que espírito desse advogado inspire vocês jovens a construir uma trajetória longa no mundo do direito. Se cada um levar um pouco de Cosme para casa hoje, a gente terá uma Salvador melhor", disse Mônica.
Cosme de Farias viveu 97 anos. Seu sepultamento foi marcado pelo maior cortejo fúnebre já visto na Bahia, com 100 mil pessoas nas ruas de Salvador. Pessoas de todas as classes sociais, etnias, vindas do interior lotaram as ruas da capital baiana, inclusive muitas delas estavam sendo juridicamente defendidas pelo rábula. "As pessoas foram às ruas em sinal de gratidão a tudo o que ele tinha feito", completou a jornalista.
Para Luís Vinícius, há uma necessidade de buscar nossas memórias e reconhecer o que temos de legado. Nesse processo, ele defende a necessidade de resgatar a figura dos rábulas, que foram pessoas que não tiveram acesso a uma faculdade de Direito, mas serviram a exercer a defesa de terceiros perante os tribunais.
"A história dos rábulas está intimamente ligada à nossa história pré-abolição, abolição e pós-abolição. Reconhecer esse legado serve para que a gente enxergue o passado, tente entender o que está acontecendo no presente e tenha uma bússola para mirar o futuro. Esses 40 privilegiados de hoje estão recebendo a carteira com o maior advogado que já pisou em terras baianas. Viva Cosme de Farias", disse o conselheiro seccional.
Foto: Angelino de Jesus/OAB-BA