Andrea Marques: Presidente da Comissão da Mulher Advogada
Na chamada Fase dos Porquês, que ocorre lá pelos três ou quatro anos, é comum as crianças questionarem o mundo. Muitas delas passam por este momento e seguem suas vidas, outras, no entanto, não esquecem os problemas e crescem determinadas a resolvê-los. Esse é o caso da advogada e presidente da Comissão da Mulher Advogada, Andrea Marques.
Desde muito cedo, Andrea cultiva uma inquietação pelo tratamento geralmente dado a homens e mulheres na nossa sociedade. Do convívio familiar, ela guarda dentre outras lembranças, os privilégios que os irmãos tiveram em relação a ela, coisas que pra muitos são consideradas normais, como o irmão mais novo aprender a dirigir antes dela e a maior flexibilidade no ir e vir do irmão mais velho, mas que nunca passaram ilesas pelo crivo de Andrea.
As diferenças de tratamento a levaram para o caminho da militância, ainda que, naquela época, ela não tivesse noção exata disso. A hoje advogada iniciou sua vida acadêmica em uma escola pública de Salvador e levava à diretoria as reivindicações dos estudantes. "Nos colégios que estudei, sempre fui eleita líder de sala, participei de movimentos estudantis e levantava a voz para os grupos se unirem em defesa dos seus direitos", relembra.
A sua chegada à advocacia foi então algo natural. A reação de uma ação iniciada desde os primeiros anos de vida. Em 1997, ela se formou na Universidade Católica de Salvador e começou a advogar. Passou pelas áreas cível, trabalhista, previdenciária e nunca arriou a bandeira em nome da igualdade de gênero.
Já no início da sua carreira, a vida mostrou que não faltariam motivos que justificassem a luta feminista. "As minhas amigas achavam 'natural' que os colegas recém-formados já estivessem contratados e que elas precisassem 'gastar o dinheiro que nem tinham ainda' com roupas e maquiagem para conquistar um lugar ao sol", declara.
Ela relembra como ainda era comum ouvir das colegas o quanto ambicionavam se casar com os colegas bem-sucedidos, quando sempre acreditou que deveria ser uma ambição pessoal o sucesso profissional e econômico de homens e mulheres. "Nunca compreendi muito bem o desequilíbrio que a sociedade atribui aos gêneros: a eles, a obrigatoriedade de irem ao mercado de trabalho, serem os mais bem sucedidos, os protetores, os provedores, 'os caras'; a elas, a responsabilidade de serem sempre doces, meigas e mães perfeitas", e pondera: "Afinal, para quê então nos esforçamos tanto para sermos quem sonhamos ser quando éramos crianças?" e desabafa, sorrindo, "ainda bem que estamos mudando o mundo no século XXI".
“A sociedade brasileira acredita que as mulheres não podem ter mais sucesso ou ganhar mais do que os homens. É como se fosse algo natural. Se você vê um casal, logo presume que ele ganha mais e ela menos, que ele sustenta a casa. No máximo, os dois estão num mesmo patamar. Esse imaginário nós precisamos desmistificar”, advertiu.
Andrea diz sonhar com o dia em que o homem não se sentirá humilhado em perder uma competição para uma mulher, apenas pelo fato de ela ser mulher. Expressões como "você é mulherzinha?" ou "dirige que nem mulher!" para humilhar os homens, são apenas algumas, de muitas expressões, que Andrea utiliza para demonstrar como o tratamento às mulheres ainda é pejorativo e humilhante.
Transformadora, inquieta e revolucionária
Longe do engessado e submisso perfil doméstico de ser, Andrea chamou atenção do presidente da OAB-BA, Luiz Viana Queiroz, do qual ela já havia sido aluna, pelo modo aguerrido que militava no Fórum da Justiça do Trabalho. Era o ano de 2012, época da primeira eleição da atual gestão da OAB-BA, e Luiz Viana convidou a colega e ex-aluna pessoalmente para compor o Conselho Pleno da Casa. “Honrada com a lembrança de meu nome, eu aceitei de logo, porque eu já conhecia Luiz Viana e sei o quanto ele é um homem sério, um advogado comprometido com a advocacia”, disse. Passada a eleição, o hoje conselheiro federal e, na época, vice-presidente da seccional, Fabrício Castro a convidou para presidir a Comissão de Proteção dos Direitos da Mulher. Em surpresa, Andrea retrucou: "Sou jovem, não tenho filhos e não pretendo fazer dessa presidência reunião para o chá das cinco. Você tem certeza que sou eu mesmo quem vocês querem nesse cargo?" Foi então que Castro explicou, com todas as letras, o que a credenciava para ocupar o cargo. “Ele disse: 'o seu perfil é o que queremos. É transformador, inquieto e revolucionário'. E foi exatamente esse perfil que eu trouxe para essa Casa”, contou. Já nos primeiros dias de gestão, Andrea justificou a confiança da Diretoria. Sob sua liderança, a comissão impugnou o edital de um concurso para delegado da Polícia Civil que trazia como um dos pontos que as mulheres aprovadas no certame só estariam livres de fazer o exame invasivo se comprovassem, através de atestado médico, que ainda eram virgens. “O edital pareceu bastante violentador, porque se temos um concurso público isonômico seria necessário que os homens também fizessem o tal exame invasivo, já que a justificativa era a de afastar doenças graves. Tudo parecia ser motivo para eliminar as mulheres já na fase final do concurso, o que não justificava”. Graças ao movimento liderado por Andrea, o então governador Jaques Wagner determinou que fosse feito um novo edital, retirando essa exigência. O caso ganhou repercussão nacional e internacional. A OAB-BA, com esse episódio, começou a gestão, sob a liderança de Luiz Viana, com o símbolo da transformação e da conquista. Ao longo desses quase seis anos, lado a lado com as integrantes das duas comissões que presidiu, e que se reúnem ao menos uma vez por mês, contribuiu para sugestão de redação de projetos de lei, participou de dezenas de seminários, debates, entrevistas, mesas temáticas, mesas redondas, congressos e conferências; estreitou os laços pela causa das mulheres com os diversos órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, bem como, com vários municípios da Bahia, com o Estado e as questões nacionais; participou de audiências públicas e sempre esteve atenta às demandas das mulheres e da Classe. "Tudo documentado em relatórios e fotos para confirmar a marca das duas mais recentes gestões de sucesso da OAB Bahia: trabalho, competência e transparência", faz questão de dizer. E quem disse que não podemos fazer o que queremos?
Nessa luta ininterrupta pela equidade entre os gêneros, Andrea hasteia sua bandeira literalmente em todos os campos. Assim, tem se destacado na advocacia pelo incentivo à prática esportiva entre as mulheres, levando as colegas advogadas a trocarem o salto alto pelas chuteiras. Presidente do Oxente FC, clube de futebol formado por advogadas e que em 2018 completa dois anos, ela verdadeiramente veste a camisa da prática esportiva feminina e faz questão de afirmar que isso é também uma forma de manifestação política. “Jogo futebol, sou praticante de Krav Magá, advogada-empreendedora, conselheira da OAB e, claro, feminista! Acho importante registrar o ativismo”, declarou. Viver a advocacia na sua plenitude e fazer da sua causa algo maior do que um mero exercício profissional, torna Andrea Marques a real personificação da sua fala. Um exemplo do chamado de Mahatma Gandhi que pediu àqueles que almejam mudanças no mundo que sejam essas mudanças. “Nós precisamos levar este discurso para a prática do dia a dia e assim transformaremos a realidade ao nosso redor. Nós devemos ser a mudança que queremos ver”, afirmou. Mulheres da OAB-BA
Em reconhecimento à participação feminina nos trabalhos da OAB-BA, a seccional deu início a uma série de reportagens especiais contando um pouco da trajetória de vida de algumas dessas mulheres que integram a Diretoria Executiva, o Conselho Seccional, CAAB, Escola Superior de Advocacia e as diversas Comissões da Ordem. A cada semana, será publicado um perfil contando a história e a trajetória profissional dessas advogadas que têm se dedicado à luta em defesa do Direito, algo indispensável para a expansão da Justiça na sociedade. Leia os textos já publicados
Ana Patrícia Dantas Leão: primeira vice-presidente da história da OAB-BA
Daniela de Andrade Borges: A Diretora Tesoureira
Ilana Campos: A Conselheira Federal
Dora Marcia Zalcbergas: A Presidente da Comissão do Idoso
Lia Barroso: Presidente da Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher Fotos: Angelino de Jesus (OAB-BA)
Longe do engessado e submisso perfil doméstico de ser, Andrea chamou atenção do presidente da OAB-BA, Luiz Viana Queiroz, do qual ela já havia sido aluna, pelo modo aguerrido que militava no Fórum da Justiça do Trabalho. Era o ano de 2012, época da primeira eleição da atual gestão da OAB-BA, e Luiz Viana convidou a colega e ex-aluna pessoalmente para compor o Conselho Pleno da Casa. “Honrada com a lembrança de meu nome, eu aceitei de logo, porque eu já conhecia Luiz Viana e sei o quanto ele é um homem sério, um advogado comprometido com a advocacia”, disse. Passada a eleição, o hoje conselheiro federal e, na época, vice-presidente da seccional, Fabrício Castro a convidou para presidir a Comissão de Proteção dos Direitos da Mulher. Em surpresa, Andrea retrucou: "Sou jovem, não tenho filhos e não pretendo fazer dessa presidência reunião para o chá das cinco. Você tem certeza que sou eu mesmo quem vocês querem nesse cargo?" Foi então que Castro explicou, com todas as letras, o que a credenciava para ocupar o cargo. “Ele disse: 'o seu perfil é o que queremos. É transformador, inquieto e revolucionário'. E foi exatamente esse perfil que eu trouxe para essa Casa”, contou. Já nos primeiros dias de gestão, Andrea justificou a confiança da Diretoria. Sob sua liderança, a comissão impugnou o edital de um concurso para delegado da Polícia Civil que trazia como um dos pontos que as mulheres aprovadas no certame só estariam livres de fazer o exame invasivo se comprovassem, através de atestado médico, que ainda eram virgens. “O edital pareceu bastante violentador, porque se temos um concurso público isonômico seria necessário que os homens também fizessem o tal exame invasivo, já que a justificativa era a de afastar doenças graves. Tudo parecia ser motivo para eliminar as mulheres já na fase final do concurso, o que não justificava”. Graças ao movimento liderado por Andrea, o então governador Jaques Wagner determinou que fosse feito um novo edital, retirando essa exigência. O caso ganhou repercussão nacional e internacional. A OAB-BA, com esse episódio, começou a gestão, sob a liderança de Luiz Viana, com o símbolo da transformação e da conquista. Ao longo desses quase seis anos, lado a lado com as integrantes das duas comissões que presidiu, e que se reúnem ao menos uma vez por mês, contribuiu para sugestão de redação de projetos de lei, participou de dezenas de seminários, debates, entrevistas, mesas temáticas, mesas redondas, congressos e conferências; estreitou os laços pela causa das mulheres com os diversos órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público, bem como, com vários municípios da Bahia, com o Estado e as questões nacionais; participou de audiências públicas e sempre esteve atenta às demandas das mulheres e da Classe. "Tudo documentado em relatórios e fotos para confirmar a marca das duas mais recentes gestões de sucesso da OAB Bahia: trabalho, competência e transparência", faz questão de dizer. E quem disse que não podemos fazer o que queremos?
Nessa luta ininterrupta pela equidade entre os gêneros, Andrea hasteia sua bandeira literalmente em todos os campos. Assim, tem se destacado na advocacia pelo incentivo à prática esportiva entre as mulheres, levando as colegas advogadas a trocarem o salto alto pelas chuteiras. Presidente do Oxente FC, clube de futebol formado por advogadas e que em 2018 completa dois anos, ela verdadeiramente veste a camisa da prática esportiva feminina e faz questão de afirmar que isso é também uma forma de manifestação política. “Jogo futebol, sou praticante de Krav Magá, advogada-empreendedora, conselheira da OAB e, claro, feminista! Acho importante registrar o ativismo”, declarou. Viver a advocacia na sua plenitude e fazer da sua causa algo maior do que um mero exercício profissional, torna Andrea Marques a real personificação da sua fala. Um exemplo do chamado de Mahatma Gandhi que pediu àqueles que almejam mudanças no mundo que sejam essas mudanças. “Nós precisamos levar este discurso para a prática do dia a dia e assim transformaremos a realidade ao nosso redor. Nós devemos ser a mudança que queremos ver”, afirmou. Mulheres da OAB-BA
Em reconhecimento à participação feminina nos trabalhos da OAB-BA, a seccional deu início a uma série de reportagens especiais contando um pouco da trajetória de vida de algumas dessas mulheres que integram a Diretoria Executiva, o Conselho Seccional, CAAB, Escola Superior de Advocacia e as diversas Comissões da Ordem. A cada semana, será publicado um perfil contando a história e a trajetória profissional dessas advogadas que têm se dedicado à luta em defesa do Direito, algo indispensável para a expansão da Justiça na sociedade. Leia os textos já publicados
Ana Patrícia Dantas Leão: primeira vice-presidente da história da OAB-BA
Daniela de Andrade Borges: A Diretora Tesoureira
Ilana Campos: A Conselheira Federal
Dora Marcia Zalcbergas: A Presidente da Comissão do Idoso
Lia Barroso: Presidente da Comissão de Proteção aos Direitos da Mulher Fotos: Angelino de Jesus (OAB-BA)