A crise econômica e seus reflexos na Advocacia
Anna Luiza Boranga (*)
A atual conjuntura estimula algumas ponderações na área jurídica. Como ocorre em outros setores, os reflexos da crise também afetam a prestação de serviços jurídicos e sem sombra de dúvida os advogados estão ansiosos e questionando seus riscos e suas oportunidades. Certamente algumas áreas sofrem redução de demanda, em outras podemos identificar uma nova onda de crescimento.
Historicamente, no Brasil, a advocacia sempre superou crises com relativa tranqüilidade. Passamos por vários planos econômicos, e em cada momento foi possível identificar e aproveitar oportunidades na área jurídica. Como exemplo, podemos citar o sucesso do contencioso fiscal gerado pela “gula tributária” de anos anteriores, da área trabalhista em função de demissões e reorganizações nas empresas.
Nas últimas décadas presenciamos o aparecimento de grandes corporações na área jurídica, seguindo a tendência mundial e o processo de globalização da economia. A taxa de crescimento dos escritórios superou a de vários segmentos e podemos identificar claramente uma expansão importante em todo o país, de norte a sul. A posição do Brasil no cenário econômico mundial facilitou a entrada de novos investidores e negócios em áreas até então pouco exploradas como o agronegócio, energia, telecomunicações, consumidor e concorrência. .
O cenário econômico atual, no entanto, merece atenção. A questão da adequação da estratégia de negócios às contingências do mercado é urgente e indispensável. Como lidar com as dificuldades financeiras de clientes? Como gerenciar uma possível inadimplência em segmentos mais afetados pela crise? Como identificar novos nichos de atuação?
As empresas nem sempre estão preparadas para enfrentar a atual turbulência e promover as mudanças necessárias à nova ordem econômica. A conseqüência se faz sentir na prestação de serviços jurídicos, seja na forte redução da demanda em alguns setores, seja no evidente impacto nas receitas do escritório.
Em primeiro lugar parece-nos oportuno revisar a estrutura, cortar custos e reduzir riscos de qualquer natureza em função de uma análise objetiva da carteira de clientes e do mercado no qual o escritório está inserido.
Na seqüência, será necessário identificar as oportunidades geradas pela mesma carteira de clientes e pela avaliação do mercado potencial que a crise pode gerar. Percebem-se claramente novas necessidades do mercado e uma demanda crescente na área de recuperação de créditos, renegociação de dívidas, falências, contencioso trabalhista e fiscal, planejamento tributário. Áreas contenciosas recuperam seu prestígio e lucratividade. Surge também e novamente uma oportunidade na área de fusões e aquisições, societária e de contratos. Em resumo, um rol fantástico de oportunidades.
Por outro lado, os riscos também começam a se evidenciar. Prazos alongados de pagamento de honorários, necessidades maiores de capital de giro, honorários baseados em êxito e resultados.
Uma vez avaliado o risco da carteira e o perfil de sua advocacia, restam poucas alternativas. Se os sócios percebem que é necessário reduzir sua equipe e redirecionar os trabalhos, a melhor e mais corajosa atitude será promover as mudanças o mais rapidamente possível e de modo radical. Medidas paliativas provocam insegurança e não são eficazes. Por outro lado, se os sócios identificam grandes oportunidades, também não podem esperar – terão que investir em novas especializações ou parcerias para ocupar esse espaço.
A atual conjuntura econômica deixa clara a necessidade de uma atuação multidisciplinar para a qual o advogado nem sempre está preparado. Parcerias estratégicas com profissionais de outros segmentos podem representar um valor agregado importante no atendimento ao cliente. Como exemplo, podemos citar profissionais da área de Administração, Economia, Contabilidade e Auditoria, envolvidos em projetos financeiros. O aspecto legal, em momentos de crise econômica, está extremamente ligado a todas as áreas de gestão e o advogado necessita do apoio para conquistar bons resultados.
O momento exige uma nova postura do advogado, com visão multidisciplinar e foco em negócios. Riscos e oportunidades estão lado a lado. Resultado é a palavra-chave. Será que os advogados estão preparados para essa nova realidade?
(*) Anna Luiza Boranga é sócia fundadora da ALB Consultoria e presidente da FENALAW Nordeste (Congresso e Exposição para Advogados) que acontece em Recife no dias 4 e 5 de junho.