"O corpo negro não gera comoção", diz Thiago Freitas em entrevista sobre Novembro Negro
Membro da Comissão Estadual da Verdade sobre Escravidão no Brasil, o advogado foi o entrevistado do OAB no Rádio desta sexta (20)
No Dia da Consciência Negra (20), o racismo estrutural e seus desdobramentos sociais foram discutidos pelo advogado Thiago Freitas, membro da Comissão Estadual da Verdade sobre Escravidão no Brasil, no OAB no Rádio desta sexta-feira (20).
Realizado em parceria da OAB-BA com a Rádio ALBA, o programa é apresentado por Luís Ganem e vai ao ar na Rádio ALBA e no perfil da OAB-BA no Instagram, sempre às terças e sextas-feiras, às 10h.
Na entrevista, Thiago chamou a atenção para a perpetuação do preconceito no Brasil, sobretudo o implícito, um dos responsáveis pelo aumento do número de mortes negras no país.
"O preconceito implícito é aviltante. Muitos o classificam como vitimismo, mas ele existe. Dados do Fórum de Segurança Nacional apontam que o homicídio de negros aumentou 11%, enquanto o de não negros caiu 12%. O corpo negro não gera comoção", disse.
Em função dessa realidade, o advogado destacou a necessidade de campanhas como o Novembro Negro, voltadas à promoção da igualdade racial.
"Precisamos de ações que façam a sociedade colocar a mão na cabeça e perceber que ela é racista e que precisa trabalhar para resolver essa questão", pontuou.
O advogado destacou, ainda, a predominância do "colorismo" no Brasil - preconceito proporcional ao tom da pele - e disse que a discriminação tende a se acirrar nos próximos anos.
"Só sente o peso dos grilhões quem se movimenta. Toda a movimentação da população negra na ocupação de espaços vai gerar um embate maior e acirrar a questão da discriminação no país, sobretudo na ocupação de espaços que, teoricamente, não eram para ser ocupados pelos negros", explicou.
Thiago também falou sobre o caso que chocou o país na véspera do Dia da Consciência negra: a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, agredido no supermercado Carrefour, em Porto Alegre, por um segurança e um policial militar.
"Mais uma morte que denota o desprezo ao corpo negro e a perpetuação da necropolítica", lamentou.
Débito histórico
Os desdobramentos da discriminação ao longo história também foram discutidos pelo advogado. Segundo Thiago, já no século XVI, os negros tiveram a escravidão como condição humana.
"Na verdade, é bom explicar que eles não eram escravos, porque fica parecendo que era a condição do negro. Ele foi escravizado, é diferente", explicou.
O advogado também minimizou a importância da princesa Isabel, responsável pela assinatura da Lei Áurea.
"Ela só fez assinar uma lei que colocou os escravos libertos numa situação ainda pior da que estavam, numa condição de marginalizados, sem nenhuma condição de sobrevivência", disse.
Thiago encerrou a entrevista reconhecendo a importância de Zumbi dos Palmares, "um baluarte na resistência ao regime da escravidão".
"Ele, sim, não se curvou ao sistema, tanto que foi escolhida a data de sua morte como marco do Dia da Consciência Negra. Um salve a Zumbi!", concluiu.