Nota pública sobre o caso da professora Samantha e a Gol Linhas Aéreas
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia, por meio da Comissão de Promoção da Igualdade Racial, vem manifestar o seu repúdio pelo episódio ocorrido na noite da última sexta-feira, 28 de abril, no voo 1575 da Gol Linhas Áreas, onde a professora, mestranda em Bioética, Samantha Vitena Barbosa, foi constrangida, coagida e detida por três agentes da Polícia Federal a se retirar do voo com saída de Salvador para Guarulhos, por “ordem do comandante ”, sem maiores explicações por parte da companhia aérea.
O voo sofreu uma hora de atraso para o embarque por culpa da própria companhia aérea, mas os comissários de bordo disseram que “caso não conseguissem chegar a Congonhas no horário previsto a culpa seria de Samantha” mesmo após ter conseguido guardar sua bagagem que estava com o seu computador entre os pertences e teve a sua solicitação de suporte ignorada pela tripulação, que determinou que esta fosse despachada. A professora questionou e não atendeu a determinação, pois o item poderia sofrer danos e foi acusada pela tripulação por ser “o motivo do atraso” do embarque.
Diante da situação os passageiros que estavam na aeronave conseguiram um local para que a sua bagagem fosse guardada, mas o avião não decolou e o comandante da tripulação acionou a Polícia Federal para conduzir a professora sem maiores explicações, gerando revolta das pessoas que estavam presentes no local, pois Samantha mesmo sem oferecer nenhum tipo de reação ou risco, foi ameaçada de ser conduzida, mesmo sem explicações, para fora da aeronave, algemada, inclusive, na presença da sua mãe.
Não há como admitir que uma mulher negra seja acusada de ser um risco ou ameaça à segurança de um embarque, quando apenas, tentava acomodar a sua bagagem na aeronave, procedimento comum, principalmente, quando se trata de um bem que pode ser avariado, se despachado.
O comportamento da companhia aérea, bem como da tripulação, do seu comandante e dos agentes que conduziram Samantha sem qualquer razão aparente, demonstra o componente estruturalmente racista nas abordagens de pessoas negras e da leitura de que corpos negros são sempre vistos como suspeitos, risco ou ameaça. Tal estrutura se reforça ao verificar que, mesmo com a presença de testemunhas que defendiam a professora e filmavam o ocorrido, nenhum dos envolvidos no episódio lamentável esboçou qualquer reação no sentido de recuar ou ouvir a professora, que, constrangida e coagida, se retirou da aeronave, após a exposição e a violação da sua dignidade.
Samantha só foi liberada após o apelo público dos jornalistas Elaine Hazin que estava na aeronave e Manoel Soares que prestou apoio à professora e a presença de dois advogados.
A Comissão da Promoção da Igualdade Racial além de repudiar publicamente o ocorrido, presta solidariedade à professora Samantha Barbosa, colocando-se à disposição e acompanhará os desdobramentos do caso.