Julho das Pretas: Menina do Rio: as gotas d’águas que chegaram à Bahia descolonizando saberes
Nascida em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, em 1987, Danielle de Araújo é neta de Ormezinda dos Santos, lavadeira, mulher muito forte e de fé, que só sabia escrever o nome e praticamente sozinha criou os filhos e as filhas na Cidade do Aço, município que se desenvolveu muito com a Companhia Siderúrgica Nacional. Filha de Marly Ferreira dos Santos Silva, uma mulher de múltiplos talentos, entre eles especialista em ciência da religião, professora de biologia, escritora e cantora, que rompeu todos os desafios para estudar e chegar ao nível superior, e juntamente com o esposo, José Antônio Medeiro da Silva, investiram toda força para estudar e formar seus cinco filhos.
A quarta filha do casal, e a terceira advogada da família, estudou, com bolsa, Direito na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/ PUC-RJ, em 2008, enquanto cursava a Faculdade criou uma organização social para lutar contra a violência sexual infanto-juvenil e em prol dos direitos das mulheres no Rio de Janeiro.
Em 2012, fez especialização em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos pela Escola Nacional de Saúde Pública - FIOCRUZ. Através de sua atuação no terceiro setor gerenciou ações sociais em parceria da União Europeia, UNODOC, SESC, FLD, entre outros. As ações e colaboradores dos projetos foram premiados pelas instituições Rio Voluntário, Planet Finance Awards, Ministério da Justiça e Senado Francês, e em 2015, ela recebeu a premiação da Laureate Brasil – Jovens Empreendedores Sociais, reconhecendo a linha inovadora dos projetos que coordenou, tendo como base de sua atuação a formação de agentes locais de transformação, comprometidos com a efetividade dos diretos sociais.
Entre outras atividades que desempenhou no Rio de Janeiro, inclui a atuação como mediadora de conflitos no Núcleo de Justiça Comunitária da Comunidade de Manguinhos, docente no curso Reflexões sobre Segurança Pública e Policiamento Comunitário, organizado pela ONU Habitat, e tutora pela Escola Nacional de Mediação de Conflitos, enquanto trabalhava no ISER – Instituto de Estudos da Religião.
No final de 2014 teve uma passagem como gestora de Projetos Especiais na Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos no Rio de Janeiro e no início do ano seguinte mudou com a família para o extremo sul da Bahia para fortalecer um projeto social localizado na periferia da cidade de Eunápolis. Casada desde 2011 com o consultor de gestão empresarial Timóteo de Araújo, tem duas filhas, Sarah e Bettina, sendo que a última nasceu em território baiano. Participou da primeira seleção do mestrado em Estado e Sociedade do Centro de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia e realizou a progressão direta para o doutorado.
Além da atuação em projetos de cunho educacional e cultural em Eunápolis, atuou como gestora social em Porto Seguro, no Instituto Mãe Terra, coordenando projetos como o Diagnóstico Situacional do Trabalho Infantil (Itaú Social) e o Projeto Infância e Trabalho: Novas Alternativas de Atuação (Secretaria Estadual de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia).
As atividades desempenhadas têm sido publicadas em revistas acadêmicas e os saberes dessas experiências tem sido utilizados para se repensar estratégias de atuação no campo social. Como docente, leciona na pós-graduação e graduação em Direito da Faculdade Pitágoras (Eunápolis - BA) e na graduação em Administração de Empresas da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes (Porto Seguro - BA). Tem discutido muito sobre a necessária transdisciplinaridade no ensino do Direito, para uma formação crítico-reflexiva dos futuros operadores do Direito, temática que trata nas obras que coordena e textos que publica. Na área acadêmica atua também como parecerista de revistas acadêmicas na UNB, UFC, UNEB, ABPN, IBCCRIM, entre outras.
É integrante do corpo editorial da Editora Pembroke Collins e do Conselho Superior de Altos Estudos em Direito – CAEDJUS, do Grupo de Pesquisa Paidéia - Laboratório de pesquisa transdisciplinar sobre metodologias integrativas para a educação e gestão social. Como forma de lutar pela igualdade no acesso à pós-graduação, ajudou a fundar o Coletivo Dandaras, que hoje agrega universitários de diferentes espaços acadêmicos do país com a missão de ofertar cursos e mentorias gratuitas para auxiliar acadêmicos com perfil cotista no ingresso em mestrados e doutorados no país.
Na OAB Bahia, integra a Comissão de Diversidade e enfrentamento à intolerância da OAB Subseção Eunápolis - BA, a Comissão Especial de Promoção da Igualdade Racial e a Comissão Especial de Apoio aos professores da OAB Bahia. A sua atuação na OAB está alinhada com seus estudos sobre uma necessária ampliação dos espaços de poder para tratar de temas tão relevantes e atuais, como o repensar do ensino jurídico, as relações étnico-raciais e de gênero e os direitos fundamentais, principalmente em tempos de pandemia.
Em razão disso, desde 2020 iniciou um grupo de pesquisa sobre direitos fundamentais na Faculdade de Direito Pitágoras para tratar de questões que envolvam a temática na região, fomentando discussões e reflexões situadas no campo de estudos. Em 2021, foi convidada a assumir a vice-presidência do Centro Latino-americano de Estudos em Culturas – CLAEC, instituição que também participa como pesquisadora e editora-assistente da Editora CLAEC. Atualmente, toda a sua experiência tem sido direcionada para assessoria legislativa na Câmara Municipal de Porto Seguro – BA, atuação que tem contribuído para a construção de ações e projetos de lei mais inclusivos, inovadores e sustentáveis na cidade, alinhados a valorização cultural e no reconhecimento dos nossos recursos comunitários e naturais da região.
Dandara Amazzi Lucas Pinho, advogada criminalista, Presidenta da Comissão de Promoção da Igualdade Racial
Rafaela Tavares Von Czekus, bacharela em humanidades/UFBa, Membra da Comissão de Promoção da Igualdade Racial